Quando ouço a dor

Agosto: Quando tirei os dois primeiros sisos, não senti nada. Nada. Nada durante a cirurgia. Nada após a cirurgia. Nem uma dor. Primeiro foi a anestesia a passar. Depois foi não poder comer, só beber. Dois, três dias. Um inchaço na cara daqui até à China. Meter gelo de manhã à noite. Tomar medicamentos.Depois foi começar a comer devagarinho. Tirar os pontos e passou. Passou tudo muito bem e fiquei ligeiramente impressionada.

Eu detesto dentistas. Começo a transpirar. Mexo as mãos, os braços, as pernas. Danço. Fecho os olhos com muita força.

Novembro: Quando tirei os dois últimos sisos, tão inclusos quantos os primeiros, não senti nada. Nada. Nada durante a cirurgia. A cara menos inchada. Meti menos gelo porque está frio. Comecei a comer muito mais cedo do que da outra vez, pois sentia-me muito melhor. Até ao quarto dia. Umas dores fortes como nunca tinha sentido. Nunca tive dores de dentes. Na verdade, o que me dói não são os dentes, não há dentes ali. Não sei o que me dói. Não sei onde sinto a dor. O local da cirurgia, após retirados os pontos, ligeiramente inflamados, continua a doer-me.

Eu detesto dentistas, apesar de ter sido sempre muitíssimo bem tratada e de saber que tudo correu bem e que este processo não é invulgar acontecer.

Põe a música mais alta. Para eu não ouvir esta dor. 

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